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José Endoença Martins (1948-) Imprimir E-mail

José Endoença Martins nasceu no município de Blumenau (SC) em 25 de março de 1948. Graduou-se em Letras pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), onde lecionou Literatura Inglesa até se aposentar. Titulou-se Mestre e Doutor em Literatura Inglesa pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Como escritor, sua literatura abrange vários estilos, tendo publicado poesia, conto, crônica, ensaEducaçãoio, teatro e romance. Como pesquisador estuda a literatura produzida em Blumenau e a literatura de escritores afro-descendentes.

Em 1985 publicou seu primeiro livro, Educação, aprendendo a brincadeira na FURB, coletânea de crônicas publicadas em jornais catarinenses no início da década de 1980 e que discutem temas referentes à educação e ao cotidiano político da Universidade Regional de Blumenau. Nesta mesma época coordenou o projeto “Poetas de Varal”. Neste projeto professores e acadêmicos da FURB publicavam seus poemas em varais posicionados nos corredores da universidade.

Seu primeiro livro de poemas, Me Pagam Pra Kaput, é publicado em 1986. Neste livro Endoença já anunciava, através dos seus poemas sintéticos e satíricos, o tom daquilo que viria a denominar de “Poema Minuto”, concepção teórica queMe pagam pra Kaput passará a defender na imprensa e na apresentação do seu segundo volume de poemas, Me Tomam Pra Doryl, de 1987, e no livro Poema Minuto: A Poética do Me vestem pra DujonTempo, uma coletânea de textos seus e de críticos da sua poesia publicada em 1991. A poética do “Poema Minuto” caracteriza-se pela quebra da estrutura tradicional do verso, pela leitura sincopada (“asmática”), pela brevidade e pela desobediência a quaisquer regras sintáticas e gramaticais. É a partir de Me Tomam Pra Doryl que esta proposta poética toma maior corpo. O próprio poeta explica que o “Poema Minuto é um emblema de uma modernidade veloz e contraditória, sempre em transformação”. Segundo o crítico Lauro Junkes, em ensaio publicado no livro Poema Minuto: A Poética do Tempo, Endoença “centra seu poema no homem, de certoMe tomam pra Doril modo colocado como absoluto, na sua existencialidade pura e simples, liberto de poderes extra-humanos, criador ou inventorEnquanto isso em Dom Casmurro mesmo de Deus, contrariando a concepção generalizada”. Sua concepção estética de poesia e o conteúdo dos seus poemas, provocou polêmica no cenário literário catarinense da década de 1980. Além de romper com as estruturas canônicas para a poesia (o que ainda era uma novidade entre os poetas catarinenses), Endoença utiliza uma linguagem coloquial, carregada de erotismo e sexualidade, cujos versos lançam um olhar crítico sobre a identidade e a moral blumenauense e sobre a realidade brasileira.

Como romancista publica em 1993 o livro Enquanto Isso em Dom Casmurro. Muitos elementos encontrados em seu romance já se anunciavam em suas obras anteriores: a metalinguagem, a ironia, a sátira, o pastiche, o olhar Poelíticacrítico sobre a cidade em que mora e a cultura de massa. Enquanto Isso em Dom Casmurro narra a história de Capitu – personagem criada pelo escritor Machado de Assis – que, cansada do realismo literário, resolve abandonar as páginas de Dom Casmurro e migrar para Blumenau, uma cidade simulacro. O romance está repleto de intertextualidades: outros livros, a moda, o cinema, os seriados estadunidenses, trilhas musicais de novelas, a cultura pop. É também em Enquanto Isso em Dom Casmurro que José Endoença Martins começa a discutir com maior sistematicidade a questão da negritude e das relações interétnicas. Personagens, como a negra Bertília, que neste livro aparecem como coadjuvantes, assumem lugar central em livros posteriores, como a peça de teatro O Olho da Cor, de 2005, e o livro de ensaios e contos A Cor Errada de Shakespeare, de 2006. Este interesse por personagens negros deriva da própria condição do escritor, ele mesmo negro e filho de operário. Interesse que vai além da produção ficcional e habita também suas A vizinhapesquisas teóricas a respeito da literatura afro-descendente, onde analisa as relações identitárias a partir do conceito de negritice: termo que “sugere a idéia de que ninguém é somente aquilo que acha que é, mas também aquilo que as pessoas dizem que ele é”, segundo Endoença no Posfácio de A Vizinha de Bell, Drummond e Whitman.

Também como estudioso da literatura, José Endoença Martins possui uma grande quantidade deA cor errada ensaios que discutem a literatura produzida em Blumenau após a década de 1960. Nestes ensaios Endoença analisa textos em prosa e em verso a partir de duas metáforas: “Blumenalva” e “Nauemblu”. Blumenalva constitui-se como a metáfora da germanidade blumenauense escrita em língua portuguesa a partir de 1960. Os textos inseridos nesta metáfora têm com eixo central a experiência da germanidade. Já a Nauemblu é a metáfora que reúne os textos blumenauenses que se caracterizam pela pluralidade, abertura estética e temática e que se afastam das concepções paradisíacas de sociedade e humanidade. Nauemblu representa a pós-modernidade na literatura blumenauense.



Bibliografia:
Poesia: Me pagam pra kaput (1986); Me tomam pra Doryl (1987); Me vestem pra Dujon (1988); Diet Poesia (1990); Traseiro de brasileiro (1992); Nisso ele é poeta. Eu não (1996); Poelítica (1996).
Romance: Enquanto isso em Dom Casmurro (1993).
Teatro: O olho da cor (2003).
Ensaio: Educação, aprendendo a brincadeira na FURB (1985); Poema minuto a poética do tempo (1991); Sexualidade e amor numa terra só de mulheres (1995); A vizinha de Bell, Drummond e Whitman (2004); A cor errada de Shakespeare (2006).

 
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